As duas mostras, iniciadas em agosto, destacam teor histórico e questionador. Visitantes podem conferir gratuitamente o trabalho dos artistas Cuquinha e Murillo La Greca.
'
Inconformado com o resultado da pesquisa e na situação de imigrante, Cuquinha decidiu retratar a relação “trabalho versus poder de compra” não só na bandeira da Inglaterra, mas em toda a mostra Topografia Suada e Londres, em cartaz no Centro Cultural Correios. A instalação foi dividida em três ambientes. O primeiro é um corredor de chão vermelho que representa o tapete em frente ao Buckingham Palace de Londres e no final do mesmo, a bandeira inglesa, denominada de Jack Pound. O corredor leva ao segundo ambiente, uma sala com vários trabalhos do artista: uma bandeira do Brasil feita com a moeda local e um painel com o mapa da capital da Inglaterra e elementos que remetem ao percurso de Cuquinha para conseguir arrecadar o dinheiro. Para conseguir as 1.000 libras, ele decidiu vender ações da bandeira. Trabalhando como rickshaw (as taxi-bike que levam os turistas a passeios), o artista conseguiu 505 libras se tornando sócio majoritário e arrecadou o restante do dinheiro com familiares, amigos e colegas.
O professor de português nos Estados Unidos, Afonso Nélio Borges, é um assíduo frequentador de museus. “Sou do Recife e passo três semanas de férias aqui todo ano em agosto. Durante este período procuro ir ao máximo de exposições possíveis”, disse. “Gostei muito dessa mostra da topografia e principalmente da crítica à banalidade do poder, á força do dinheiro.” Em uma das paredes do segundo ambiente, fotos dos sortudos 42 acionistas de 10 países que, após a Jack Pound ter sido vendida por 17.000 libras no famoso leilão Christie’s tiveram suas ações multiplicadas também por 17. Ainda na segunda sala, um painel preto com moedas de 5 centavos de real coladas e uma caixa com petróleo no meio. Na parte de cima do painel, as moedas estão intactas enquanto na de baixo elas se encontram furadas ou quebradas.
“Alguns visitantes analisaram o painel como uma representação dos países ricos do Norte e os pobres do Sul. É uma das interpretações, mas cada um está livre para entender como quiser”, explica a mediadora Roberta Rodrigues. “O que o Cuquinha quis mostrar em toda a mostra é seu sentimento de não identificação enquanto morava na Inglaterra e a tendência a reduzirmos tudo a coisas.”
Topografia Suada e Londres é uma mostra de aparência simples, sem instalações tecnológicas, mas de conteúdo complexo que traz àquele velho debate sobre o consumo excessivo. Debate que mesmo antigo, trona-se sempre necessário. Em relação a Jack Pound, Roberta finaliza: “não é nem bandeira, nem é dinheiro. Passa a ser um terceiro elemento, algo mais representativo.” Traduzir em obras a história dos principais pontos históricos do Recife. Este é o propósito da exposição “Obras públicas de Murillo La Greca”, que, desde o dia 26 de agosto, leva ao museu homônimo alguns trabalhos do artista. Só na abertura, cerca de cem pessoas estiveram presentes para prestigiar a exposição. E a expectativa é que o ritmo se mantenha nos próximos dois meses.
Ele nasceu no dia três de agosto de 1899, e, desde os 12 anos, já tinha a veia artística. O pintor e professor recifense Murillo La Greca hoje é lembrado pelos conterrâneos através de uma série de obras que retratam a capital pernambucana, trabalho que pode ser conferido nos seis ambientes do museu, reservados a um verdadeiro passeio turístico pelo Recife. A mostra contempla desde o Palácio da Justiça, localizado no bairro de Santo Antônio, ao Museu do Estado, que fica na Avenida Rui Barbosa, passando por pontos como o teatro Santa Isabel e o museu do Forte do Brum.
Mapas e retratos ilustram a exposição, que dão ao visitante a oportunidade de participar da mostra. É que quem tiver fotografias dos pontos turísticos expostos no museu pode fixá-las próximo aos quadros que compõem as paredes do La Greca. A mediadora cultural Clarissa Corrêa chama atenção para uma novidade presente nesta exposição: “Sempre esteve dentro dos planos do museu dedicar uma sala em homenagem a Sílvia Decussati, ex-mulher do artista. Nesta temporada, foi criado um ambiente intimista, que expõe aos visitantes algumas obras que Murillo fez para sua amada”.
A sala especial montada com objetos e obras que remetem a Sílvia é fruto da história vivenciada pelo casal. Com a morte da esposa, amiga e musa inspiradora, Murillo diminuiu o ritmo de produção. “Todos que estudam a história desse artista sabem que Sílvia tem uma grande parcela de influência nas obras que hoje aqui estão. Mas, mesmo com a dor da perda e a consequente queda do número de criações, ainda foi possível deixar aos recifenses parte do legado de sua história”, finalizou a mediadora cultural.
Confira a exposição no vídeo abaixo: “Obras públicas de Murillo La Greca”.
Serviço
Exposição “Topografia Suada e Londres”
Centro Cultural Correios
Av. Marques de Olinda, 262 - 2º. Andar - Bairro do Recife
Período do evento: 02.08 a 23.09.2012
Horário: 9h às 18h de terça a sexta / sábados e domingos, das 12h às 18h
Informações e agendamentos: 81 3224 5739
centroculturalcorreiosrecife@correios.com.br
Exposição “Obras públicas de Murillo La Greca”
Museu Murillo La Greca
Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti, número 366 – Parnamirim
Período do evento: 26.08 a 26.11
Horário: de terça a sexta das 9h às 17h e sábados e domingos das 13h às 17h.
Informações: (81) 3355-3126 / (81) 3355-3127 / (81) 3355-3129
Ambos têm entrada franca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário